segunda-feira, 25 de junho de 2007

Congelando na Nova Zelândia!

(Queenstown, 25/06/2007 – 17h00) Eu sempre preferi o verão ao inverno. No calor as pessoas são mais alegres, os dias mais longos, as atividades ao ar livre mais prazerosas e as roupas mais leves. No entanto, o calor pode ser bastante desconfortável se você passa o dia inteiro na rua e carrega uma mochila com 5 kg nas costas. Nos últimos 2 meses da viagem, a temperatura ultrapassou os 30°C todos os dias, e na Índia passava dos 40°C. Nem sempre foi possível tomar um banho ao longo do dia para me refrescar.

O frio na Nova Zelândia se apresentava como uma mudança agradável. Antes de deixar Bali consultei a previsão do tempo para os meus primeiros dias na Oceania. Em Auckland, na ilha do norte e principal cidade do país, a expectativa era de temperaturas entre 5° e 12°C. Nada muito diferente do que temos em São Paulo durante o inverno. Mas em Queenstown, na ilha do sul e meu principal destino, a previsão era de temperatura média de zero grau, com neve em alguns dias. Com certeza as minhas roupas não seriam suficientes para isto.

Segundo as palavras da Patrícia, que mora a alguns anos na Suécia, não há clima ruim e sim roupas inadequadas. Com isto em mente comprei calca e camisas para usar como primeira pele, e uma jaqueta a prova de chuva e vento. Usados em conjunto com as luvas, o gorro, as meias térmicas e a blusa que eu trouxe do Brasil posso dizer que não passei frio em nenhum momento, mesmo ao ar livre. A minha maior preocupação eram os meus tênis, que não são a prova de água. Tive que evitar pisar na neve, o que nem sempre foi possível... Ok, neste ponto eu admito que o titulo desta postagem é exagerado.

Em Auckland eu fiquei somente 1 dia. Como era domingo, a cidade estava meio deserta pela manhã. O AJ ficava no meio do bairro chinês, e as primeiras pessoas que vi na rua foram asiáticas. Eu compararia Auckland com alguma cidade do interior da Inglaterra, com tudo bem arrumado e sinalizado. Saio do bairro chinês em direção ao museu da cidade, que é especializado na cultura maori, dos antigos habitantes da ilha. Agora sim, todas as pessoas que encontro têm aparência européia.

À tarde volto para o centro, que nesta hora está bem movimentado. Caminho na direção da Skycity, a construção mais alta do hemisfério sul. A visão de 360° a partir do terraço panorâmico é magnífica! Quem me conhece sabe que eu adoro fotografar as coisas de um ângulo alto. Durante 3 horas caminho de um lado para outro no terraço e espero o por do sol. Converso com um casal de brasileiros em lua-de-mel, os primeiros entre vários que encontrei por aqui.

No dia seguinte tomo o avião para Queenstown. Trata-se de uma cidade pequena e bela, cercada por montanhas cobertas por neve e banhada por um lago glacial. Certamente vocês já devem ter escutado sobre os esportes de aventura na Nova Zelândia. Pois bem, em Queenstown é possível encontrar de tudo: você pode pular de uma ponte amarrado por uma corda elástica, pousar no alto de uma montanha em um helicóptero para esquiá-la, enlouquecer em um barco veloz que enfrenta as corredeiras e as rochas de um rio, ser atirado por um canhão caso o salto da ponte não gere adrenalina suficiente...

O único problema são os preços. De uma forma geral, a Nova Zelândia tem preços comparáveis aos da Europa, o que torna a viagem cara em relação à Ásia. Qualquer destes esportes de aventura custa no mínimo US$ 100, com uma duração que vai de alguns segundos até 1 hora. Eu fiquei bastante tentado a experimentar o tiro de canhão, mas resolvi manter a minha sanidade e subi de teleférico até o alto da montanha. Com cerca de 2.000 brasileiros que vivem em Queenstown, a maioria trabalhando em hotéis e restaurantes, é muito fácil se comunicar em português.

O meu roteiro na ilha do sul incluía percorrer diversas estradas cênicas, num percurso de 1.200 km. Para isto eu aluguei um carro, o que me trouxe uma série de vantagens mas também algumas dores de cabeça. As vantagens foram: o custo, menor do que outras formas de transporte; o imenso prazer que eu tenho ao dirigir em estrada; e a liberdade de escolha que o carro proporciona. As dores de cabeça vieram principalmente da previsão do tempo, que indicava neve para os próximos dias...

Escolhi a cidade de Te Anau como base para o meu percurso. O primeiro passeio seria dirigir 120 km até Milford Sound. A previsão era de tempo bom, embora o site da estrada informasse que era obrigatório carregar correntes caso nevasse. Correntes??? Não me lembro desta aula na auto-escola... Preocupado, perguntei para várias pessoas sobre a estrada. No quiosque de informações turísticas ganhei um folheto com dicas em caso de avalanche. Não haveria nenhum posto de gasolina ou qualquer ponto de apoio no meio do percurso. Na foto você pode observar como estava a estrada.

A neve é normal para eles, e de uma forma geral todos demonstravam tranqüilidade. Menos eu... O boletim atualizado sobre a estrada foi às 7h30 da manhã. Tempo bom, gelo na estrada e sem risco de avalanche... Fiz uma aula prática no posto de gasolina para colocar a corrente nos pneus. Dirigi com muito cuidado. A paisagem era fantástica! Há vários pontos ao longo da estrada para estacionar o carro com tranqüilidade e fotografar. O trecho com gelo era de uns 5 km, no alto da serra, e basta dirigir devagar que o risco é mínimo. Aliviado, cheguei ao meu destino depois de 2,5 horas.

Em Milford Sound eu peguei um barco que atravessa toda a extensão do fiorde em 1,5 horas. Vejo formações rochosas que foram esculpidas por geleiras ao longo dos anos e que posteriormente foram invadidas pela água do mar. É uma das paisagens mais bonitas que eu já vi na minha vida! Montanhas escarpadas e cobertas por neve. O céu azul complementa o cenário perfeito. Acho que nenhuma foto é capaz de representar a grandeza do que vejo.

No dia seguinte dirijo até Manapouri para explorar o Doubtful Sound. A estrada é boa e chego em 20 minutos. Neste dia o passeio de barco é longo, dura 5 horas. Infelizmente o céu está nublado e não há tanto contraste com os picos nevados. Alguns golfinhos surfam nas ondas provocadas pelo barco e dão saltos acrobáticos. No fiorde há dezenas de cachoeiras que são formadas pelo degelo nas montanhas.

No dia seguinte eu faria uma longa viagem até o extremo sul da ilha para dormir em Invercargill. A previsão indica neve durante a noite e nos dois dias seguintes. Acordo e vejo o meu carro coberto pela neve. Saio para tomar café e aproveito para ler os jornais. A manchete era sobre a tempestade de neve que cobriu grande parte da ilha do sul. Diversas estradas estavam bloqueadas, inclusive as duas que eu havia percorrido nos dias anteriores. Imaginei que a neve se concentrasse nas montanhas, mas a região litorânea também foi atingida. Fotos de carros tombados me deixaram mais preocupado. Decidi ficar mais uma noite em Te Anau. Acompanhei a previsão do tempo, sempre precisa, e não notei nenhuma mudança.

O dia seguinte amanheceu da mesma forma, com neve por todos os lados. A minha intenção de fazer um longo roteiro de carro estava comprometida. Decidi que o melhor era voltar para Queenstown, onde pelo menos estaria perto do aeroporto. O site de informações sobre as estradas estava congestionado e fora do ar. No quiosque de informações turísticas perguntei sobre o retorno para Queenstown. A estrada estava aberta e era obrigatório o uso das correntes. Enchi o tanque, caso precisasse me manter aquecido pelo ar condicionado no caso de emergência (isto pode parecer ridículo agora, mas naquele momento eu pensava em todas as contingências possíveis).

Os primeiros quilômetros a partir de Te Anau foram tranqüilos, semelhantes ao que já havia passado no caminho para Milford Sound. Confiante, dirigia em quarta marcha a 60 km/h. A orientação que recebi era evitar o uso do freio, regulando a velocidade pelo uso do câmbio. De vez em quando cruzava com um veículo no sentido contrário. No meu caminho eu enxergava algumas montanhas totalmente cobertas pela neve. Ao me aproximar delas, a estrada ficava cada vez com mais gelo na superfície, e passei a dirigir em terceira marcha. Na subida senti que o carro perdia aderência, e troquei pela segunda. Assustado, quase no final da subida tive que passar para a primeira. Achei que seria impossível continuar naquelas condições.

Numa destas coisas que são difíceis de explicar, encontrei um carro estacionado bem na minha frente. Abaixei o vidro e perguntei o que ele achava. Ele me disse que também estava assustado e que estaria colocando as correntes. Porém um policial havia passado e dito que o pior trecho era aquela subida, e que não havia a necessidade de se colocar as correntes pois um trator estava limpando a estrada. Aliviado, alcancei e segui o trator por alguns quilômetros.

O restante da viagem foi relativamente tranqüilo, com trechos em neve ou gelo, mas nenhum tão assustador quanto aquela subida. A ultima dor de cabeça com o carro foi um pneu furado na entrada de Queenstown. Tive que trocá-lo na neve. Léo, eu sei que você vai reclamar que eu não tirei nenhuma foto desta estrada. Então eu te desafio a fotografar numa situação como esta...

Nos meus últimos dias na Nova Zelândia eu fiz passeios curtos, como a estação de esqui em Coronet Peak e a antiga cidade mineira de Arrowtown. O tempo melhorou, as estradas estão sendo liberadas gradativamente, e o aeroporto voltou a funcionar normalmente desde ontem.

A Nova Zelândia é um destino no qual a natureza é o grande atrativo. Se por um lado o clima severo provoca situações imprevisíveis, por outro lado ele produz cenários magníficos. Veja as fotos em www.flickr.com/photos/eduardofeijo/collections/72157600379393377/. Algumas das paisagens mais bonitas da minha viagem eu encontrei por aqui. Uma parte está registrada em fotos, outra parte está na minha memória. Tenho que voltar outras vezes! Há muito a ser explorado.

8 comentários:

WALDIRENE LIBERALLI-DUNCAN disse...

Edu!!!!!!!!!!
Sem comentarios.
Mais uma vez as suas fotos dizem tudo. Que espetaculo! Eu quero ir pra New Zealand!
Beijos! Wal

Claudia Arantes disse...

Que Delicia!!!
Sabe eu tenho um pouco de Pavor pelas coisas que eu não tenho controle... tipo a sua... mas nada que depois não vira uma otima aventura... beijos

claudia

Leo Mayrinck Photos disse...

é ne, neve é punk, mas pelo menos vc tirou a foto das correntes no pneu do carro....abracao e cuidado hein...

Unknown disse...

Du,

Fiquei em pânico só em ler sua "aventura na neve"! Agora fico imaginando vc lá, ao vivo e à cores... Pelo amor de Deus, muito juízo e muito cuidado, tá?!
Bjokinhas!!! Se cuida por aí...
Lu

Filipe Morato Gomes disse...

Parabéns pela leitura proporcionada, pelas fotos, pela partilha da viagem. Ajuda a mente regressar à estrada, depois de terminada uma longa volta ao mundo.
Grande abraço e continuação de uma excelente viagem!
Filipe

Marcio Nel Cimatti disse...

Edú,

Gostei do relato da viagem. Ainda volto para ler os outros posts.

Qdo passei pela Nova Zelândia não estava tão frio assim, mas lembro direitinho do vento gelado.

Abs!

Marcio

Anônimo disse...

lindissimas as fotos!!!
e q historia de correntes, hein? nunca tinha ouvido falar...
deve ser muito desconfortavel andar com aquelas correntes, o carro deve ficar meio q trotando...é assim? ou a neve ameniza? hehe

Anônimo disse...

VC TEM FOTOS DO MUSEU DA NV??? E DO TELESFERICO??/SE TIVER PELA O AMOR DE DEUS POSTA TO PRECISANDO DE MUITAO BJXX
KÉSIA....