sábado, 16 de junho de 2007

Uma cerimônia de cremação!

(Sydney, 16/06/2007 – 09h50) No meu terceiro dia em Ubud fui convidado a tomar o café da manhã com o I Nyoman Suradnya, artista e dono da pousada. Para não passar vergonha, antes do café olhei as obras do ateliê. O estilo dele é moderno, de pouca semelhança com o que eu havia visto nos museus. Por algum motivo o sapo é figura recorrente nas pinturas. Ao lado dos quadros encontro uma série de reportagens. Jornais americanos e franceses elogiam o estilo alternativo do artista. Vejo diplomas de uma universidade americana que agradecem as aulas ministradas. Ah, a foto ao lado não é do Nyoman.

Durante o café da manhã falo sobre a minha viagem. Pergunto sobre as reportagens e os diplomas. Ele me conta que viveu alguns anos na França, na Itália e nos Estados Unidos. Pergunto sobre os sapos. Ele não fala de uma forma direta, apenas insinua que arte não precisa de explicação. Alguns alunos aparecem para a aula de pintura, somente estrangeiros. Caso tenham curiosidade o endereço dele na internet é http://www.nirvanaku.com/.

Minha última pergunta é sobre a cerimônia de cremação. Ele me explica que para os hindus a cremação libera o espírito para a próxima jornada. A morte não significa o fim, mas a passagem para uma nova existência num ciclo que todos percorrem. A cremação é uma cerimônia alegre. Segundo o calendário de Bali, que é diferente do nosso ocidental, a cremação tem dias específicos para ser realizada. Ele insiste que eu assista a próxima, que aconteceria no dia seguinte. E, adivinhando a minha pergunta, não haveria nenhum problema em fotografá-la.

Eu não estava confortável com a idéia de fotografar a cerimônia, embora tivesse bastante curiosidade. Decidi acompanha-la, deixando a maquina na mochila. Ao me aproximar, uma senhora me avisa que tenho que usar um sarongue sobre a bermuda. Percebo que há outros turistas nas proximidades, e uma grande quantidade de locais. Eles se cumprimentam, brincam, jogam água uns nos outros. O clima é descontraído, tiro a máquina da mochila e faço as primeiras fotos. Os homens carregam a imagem de um boi e uma estrutura no formato de um templo.

Uma banda acompanha o percurso. A batida é forte, rápida. As estruturas são pesadas, e ora os homens param para descansar, ora se equilibram para mantê-las de pé. Uma pessoa vai na frente para erguer os fios elétricos, nem sempre com sucesso, e vários são arrancados dos postes. O grupo que segue na dianteira canta e sacode a figura do boi. Percorremos cerca de 2 km, observados pelas pessoas nas calçadas, até um grande templo (em Bali os templos hindus são denominados Pura).

No templo acontece a cerimônia de cremação propriamente dita. As estruturas e os pertences também são queimados. A família e os amigos fazem uma espécie de piquenique. Eu, assim como outros turistas, me sinto deslocado neste momento. A emoção por ter participado de algo tão importante é muito forte. É algo para não ser esquecido. É uma lição sobre como encarar as coisas da vida de uma forma diferente.

Aproveito o dia para resolver coisas burocráticas. A partir da Nova Zelândia, e durante o meu percurso na África e parte da Europa, eu estarei enfrentando a avalanche de turistas da alta temporada. Isso significa que não conseguirei descontos como os que consegui na Ásia, e que terei que me programar com uma antecedência maior para evitar contratempos. A noite, para descontrair, assisti uma apresentação de Legong, outra performance característica de Bali.

No dia seguinte fiz uma longa viagem até Gili Trawagan, uma pequena ilha que fica nas proximidades de Lombok (a maior parte das terras da Indonésia está situada em ilhas). São 1,5 horas de ônibus mais 5 horas de barco em mar aberto. A correnteza é forte, e fico ligeiramente mareado. Para evitar problemas, fico sentado o percurso inteiro na mesma cadeira sem me mexer... Algumas vezes fiquei encharcado pelas ondas que invadiam o convés.

O resultado valeu a pena: Gili Trawagan é de uma beleza impar, cercada por corais e sem nenhum automóvel. Os únicos veículos são charretes puxadas por burrinhos. As pousadas e os restaurantes são muito agradáveis. Há diversas opções de mergulho. Caminhei por 2 horas, que são suficientes para dar a volta na ilha. Há uma elevação que é perfeita para acompanhar o por do sol. Aproveitei também para ficar algumas horas na piscina...

O retorno para Bali é mais tranqüilo pois o barco segue a favor da corrente. Novamente em Ubud, assisto a performance Kecak Fire and Trance Dance, a mais primitiva e criativa de todas as que assisti. Planejo outro dia de bicicleta, mas o tempo chuvoso não ajudou. É hora de fazer as malas, separar a roupa de frio e seguir para o aeroporto. Uma longa viagem me espera até a Nova Zelândia (esta última frase eu escrevo em Aucklank, onde acabei de chegar depois de 25 horas de viagem desde Ubud). As fotos da Indonésia estão em www.flickr.com/photos/eduardofeijo/collections/72157600371487472/

Ontem completei 50% da viagem. A etapa na Ásia durou 52 dias, em 7 paises. Algumas conclusões desta etapa:
1. O custo para hospedagem e alimentação é relativamente baixo para os brasileiros (para os portugueses também, agora que tenho novos amigos lusitanos acompanhando o blog). Uma média diária de US$ 30,00 é suficiente para conseguir um quarto com ar condicionado (importante no verão), bem localizado, limpo e para fazer 2 refeições completas. Um mochileiro despojado consegue fazer por menos da metade;
2. Os passeios são baratos, muitos são de graça (templos, praias, caminhadas). As exceções são o cruzeiro em Halong Bay no Vietnam (US$ 110) e o Angkor Park no Camboja (US$ 40);
3. As passagens aéreas regionais são relativamente baratas se compradas com alguma antecedência pela internet. Existem boas companhias aéreas de baixo custo operando com aviões novos;
4. O visto de entrada para os paises que visitei são obtidos no próprio aeroporto. As exceções são a Índia e o Vietnam;
5. Os asiáticos são muito atenciosos e sempre sorridentes. Pena que conhecem muito pouco sobre o Brasil, em geral somente o futebol;
6. Eles estão sempre dispostos a negociar. Não aceite o primeiro preço oferecido a menos que seja aceitável para o seu bolso;
7. É muito fácil viajar por conta própria, principalmente na baixa temporada. A grande maioria das pessoas fala inglês nas áreas turísticas;
8. Considero Bali na Indonésia o destino mais completo. Há atrações para todas as pessoas, seja para aventureiros, para quem busca conforto ou para um casal em lua de mel. Praias magníficas, atividades culturais de alta qualidade, trekking em vulcões, mergulho, vida noturna, etc. As distâncias são relativamente pequenas, e o aluguel diário de uma bicicleta é de US$ 3.

11 comentários:

Leo Mayrinck Photos disse...

demais demais demais, agora vou ver as fotos e pelo pouco que ja vi estao demais como sempre, suas experiencias nessa viagem estao sendo impares, isso me deixa mais motivado pra fazer minha trip....boa sorte no frio agora, abraco

Unknown disse...

Concordo com o Leo, suas experiências e aventuras relatadas aqui no blog instigam qualquer um que as lê, a planejar uma viagem também...
Boa sorte no novo continente...
Ah!! Acabei de ver as fotos... Sensacionais!!!!
Bjs e divirta-se...

Anônimo disse...

Bárbaro, Edu!!!!
Ler suas colocações e conclusões, ver as cores das fotos e conhecer outras culturas instiga qquer ser humano deste planeta a ir mais longe que sua mera realidade! Me sinto um "nada" em frente à esse computador sabendo que há tantas maravilhas neste mundo para se ver ao vivo e continuo aqui (como a maioria das pessoas), me contentando com o tal mundinho virtual...
Vc está de parabéns! Além do talento para escrever e fotografar, sua coragem e iniciativa são admiráveis!!!
Bjs

Anônimo disse...

50% de progresso? + q o nosso projeto aqui...hehehehhe
A foto do barco em Gili Trawagan lembra o filme a praia... SIMPLESMENTE LINDA!
Aproveite a terra down under e veja q diferente eh aprender inglês com o sotaque Ausie do Stan!
Abraço de SP chuvoso
Mario

Cláudia Caetano disse...

Consegui viajar com o relato que claramente é um enorme incentivo a visitar a Ásia! Vou agora espreitar as fotografias!

Claudia Arantes disse...

è a primeira vez que comento aqui, mas estou amando essa viagem com vc...hahaha!!! fico me imaginando nesses lugares... uma delicia...

beijos

claudia

Anônimo disse...

fala feijó
as fotos de praia na indonesia lembra muito o filme 'a praia',
lugares muito lindos

cada vez q venho ler o seu blog fico mais intrigado por ler o q vai vir pela frente...so espero q essa viagem nao acabe! hehe

divirta-se mais e mais para poder nos contar aqui!
abracao!

Anônimo disse...

Que belas fotos e relato, que transbordam de cor e vida e em que se adivinham facilmente aromas, sons e movimento.

Anônimo disse...

Parabéns pelo relato sobre a àsia em geral (U$ dia/hospedagem etc) muito interessante e fotos lindas pra variar!
No acompanhamento!
Tomás

Unknown disse...

Só pra variar...Bárbaro!!!!O comentário do mergulho é pra provocar??!!rsrs...bjks e Namastê!!!Aninha

Unknown disse...

Feijó:

Muito, muito, muito legal e mais ainda as fotos e a viagem.
Show de bola!
Já adicionei nos favoritos para eu viajar virtualmente.

Aproveite!

Fábio Laranjeira Bernardes