sexta-feira, 11 de maio de 2007

Rajastão, a terra dos Marajás!

(Udaipur, 10/05/2007 – 22h00) Já mencionei algumas vezes aqui no blog que ouvi mais comentários negativos do que positivos sobre a Índia (numa proporção de 10:1). Tenho me preocupado com isto desde a montagem inicial do roteiro (para quem tem boa memória, a Índia foi o primeiro país a entrar na minha lista). Desta forma, o meu principal desafio foi descobrir como tornar a experiência na Índia prazerosa, e evitar o desconforto vivenciado pelos meus amigos viajantes.

A Índia tem cerca de 1 bilhão de habitantes e uma área menor que a do Brasil. Grande parte da população vive em condições precárias e com um mínimo de higiene. Não há como não perceber estas coisas, pois estão espalhadas por todos os lugares onde passei (o meu roteiro não inclui as cidades mais desenvolvidas no sul da Índia).

Nas ruas você encontra muita sujeira, vacas, galinhas, gente empurrando carroça, carros, muitas motos e rickshaws (mistura de moto com charrete). Eu também vi camelos e elefantes, embora mais raros. Certamente muitos lugares no Brasil são parecidos com a Índia. Porém, como integrantes da classe média, nós evitamos olhar ou passar por estes lugares.

Como tenho somente 12 dias para a Índia, decidi concentrar o meu roteiro no Rajastão, famosa terra dos antigos marajás. São cidades menores e bem preparadas para o turismo. A minha primeira cidade foi Jodhpur (foto ao lado do forte Meherangarh). Para ganhar tempo e evitar a confusa estação de trem em Delhi resolvi fazer este primeiro trecho de avião.

Jodhpur é mais conhecida como a cidade azul, pois grande parte das casas é desta cor. Mas a atração mais interessante da cidade é o forte que fica no alto de uma colina. Ele é imenso e muito bem conservado. A sua construção foi iniciada no século XVI. Logo ao chegar à cidade, tomei um rickshaw e fui ate lá para fazer algumas fotos externas.

O único problema é a temperatura de 42 graus. Não há sombra! O vento é quente, não refresca nem um pouco... O jeito é tomar água, muita água. Em media tomo uns 5 litros de água por dia, além de alguns refrigerantes. Embora o desconforto do calor seja grande, ele traz alguns benefícios. Quase não há turistas, o assédio dos vendedores é pequeno (eles também sentem calor) e os preços são baixíssimos. Em quase todos os hotéis eu fui o único hóspede. Com isso consegui bons quartos com ar condicionado.

No dia seguinte voltei ao forte para fotografar o seu interior, digno de um marajá. Mas antes gastei quase 2 horas para comprar a minha passagem de trem para Jaisalmer. A estação estava cheia, e há um guichê para atender estrangeiros, mulheres e idosos. O problema é que se formam 3 filas para um único atendente, ai vocês podem imaginar a confusão...

No final da tarde subo novamente até o forte para fotografar o por do sol (o que vocês acham do efeito ao lado?). Resolvo jantar no restaurante do próprio forte, no alto das muralhas. Que lugar magnífico e romântico! Esse seria um ótimo momento para estar acompanhado... Volto para o hotel, tomo banho e vou para a nada romântica estação de trem. Pessoas dormindo no chão, nenhuma placa em inglês, eu começo a ficar preocupado... Pessoas me rodeiam, curiosas. Algumas perguntam de onde eu sou. Mas tudo muito tranqüilo, sem nenhuma intenção adicional. Afinal de contas, eu era o estranho naquele lugar! A viagem era noturna, com 6 horas de duração, tinha ar condicionado e havia uma pequena cama na parte superior do trem. Embora não muito confortável, deu para descansar.

Chego em Jaisalmer às 6 da manhã, durmo algumas horas no hotel (assim como todos os hotéis que fiquei no Rajastão, este também era muito bom). Mas fico decepcionado com o forte, construído em 1.156... Eu tinha uma alta expectativa em relação a ele, tanto de amigos quanto do Lonely Planet. Diferente do forte de Jodhpur que não é habitado, este é um onde as pessoas moram dentro. Há hotéis, agencias de turismo, restaurantes... O calor era muito intenso, pois Jaisalmer fica no deserto de Thar. A melhor parte do passeio é o museu, que retrata a historia dos antigos marajás.

No final da tarde resolvo ver o por do sol no deserto. Para chegar até lá são necessárias uma hora de jipe e mais uma hora e meia hora de camelo. Um casal de italianos faz o passeio comigo, o Andrea e a Gabriela. Eles também estão numa viagem de volta ao mundo, e aproveito para trocar uma série de experiências.

Meu camelo chamava-se Michel. O guia tentou me explicar o motivo mas não consegui entender... O bicho anda bem devagar, conduzido pelo guia. Montar e desmontar são muito fáceis, pois o camelo agacha numa altura razoável. A hora de levantar é um susto, pois ele primeiro levanta a parte traseira (ou seja, você é jogado para a frente) e depois a dianteira. Não sei ao certo, mas acho que ele me mantém há mais de 2 metros do chão.

No final o jantar é preparado pelo guia em uma cozinha improvisada na areia. Comida indiana típica, vegetariana. Para comer usa-se a mão direita. É meio estranho, embora para eles seja o costume do dia a dia. Depois de um tempo meio atrapalhado, desisto e peço uma colher... A comida era ótima, bem temperada! Aliás, todas as refeições que fiz na Índia foram muito boas. A comida sempre é saborosa, picante. No hotel comi uma incrível pizza de cebola e queijo, numa massa folhada e crocante. A tal da Samosa é a minha preferida. Parece um pastel e é recheada com vegetais. Já que aqui não tem quibe nem empanada...

No dia seguinte visitei um complexo de templos Jainistas, outra religião praticada na Índia. Em vários aspectos os templos me lembraram os Budistas e os Hinduístas. É permitido visitar 5 dos 7 templos, todos interconectados entre si. O que mais me impressiona é a grande quantidade de esculturas em pedra distribuídas pelo complexo. Tudo muito limpo e conservado.

É hora de deixar Jaisalmer. O meu próximo destino é Udaipur. Não há trem ou avião que faça essa rota. O jeito é enfrentar uma viagem de ônibus com 14 horas de duração. E sem ar condicionado... Chego meia hora antes da partida, onde deveria ser a estação rodoviária. A única sombra disponível é a de uma árvore. São 3 horas da tarde, o calor é absurdo.

Dentro do ônibus os assentos estão dispostos de uma forma convencional. As camas ficam acima dos assentos. Há camas individuais e camas duplas, e a privacidade é obtida com portas de correr. Não há banheiro. O meu tíquete é para uma cama individual. Felizmente o comprimento da cama é do meu tamanho. Abasteço-me com muita água e tento me distrair lendo os guias de viagem e editando algumas fotos no notebook.


Nunca suei tanto na minha vida! O ônibus não é expresso, e pára o tempo todo para subir ou descer pessoas. Em algumas paradas aproveito para comprar água gelada. Anoitece e já não tenho disposição para ler mais nada. O ônibus faz uma parada intermediaria de 1 hora, num lugar sem nenhum atrativo. Percebo que a temperatura está diminuindo, mas não há nenhuma brisa. A segunda parte da viagem dura umas 6 horas e o ônibus já não faz tantas paradas. Com um vento agradável consigo dormir até a chegada em Udaipur. Nunca um banho foi tão importante!

Udaipur é uma cidade onde as principais atrações estão próximas umas das outras. Desta forma aproveito para caminhar bastante. Visito o Bagore-Ki-Haveli 2 vezes. Durante o dia funciona como um museu, em uma casa com 138 aposentos. A noite há um espetáculo de danças típicas do Rajastão, bem interessante.

(Katmandu, 05/05/2007 – 16h40) Não posso deixar de contar como foi a saída de Katmandu. O vôo estava marcado para as 16h00, e chego ao aeroporto com 2h30 de antecedência.

13h30 – para entrar no saguão pego a fila do raio X. As malas recebem um lacre da polícia. Algumas pessoas e bagagens são revistadas;
13h40 – antes de fazer o check in tenho que ir ao banco para pagar a taxa de embarque;
13h45 – para fazer o check in a bagagem a ser despachada precisa ser inspecionada pela companhia aérea e ganha um novo lacre;
13h50 – faço o check in
13h55 – dirijo-me para a área de embarque. Para subir as escadas é necessário apresentar o cartão de embarque;
14h00 – entro na área de imigração e fico na fila;
15h00 – depois de 1 hora na fila passo pela imigração e o cartão de embarque é carimbado;
15h10 – gasto uns dez minutos para comer alguma coisa e tomar um refrigerante;
15h15 – entro em outra fila. Desta vez todas as pessoas são revistadas e as bagagens de mão passam novamente pelo raio X;
15h30 – mais uma fila, desta vez para que a bagagem de mão seja inspecionada. O cartão de embarque é novamente carimbado;
15h35 – entro no corredor até chegar ao terminal indicado. Pela movimentação, pelo menos 3 vôos estariam embarcando pelo mesmo terminal. Não há nenhum painel eletrônico. Os passageiros em duvida perguntam a qualquer um que tenha cara de funcionário de companhia aérea quando será o embarque. A resposta usual é `5 minutos´;
16h00 – começa uma chuva muito forte. Nenhum embarque foi iniciado. Ainda bem, pois a chuva era realmente muito forte;
16h10 – olho pela janela e vejo os funcionários do aeroporto tentando sem sucesso proteger as malas da chuva. Duvido que alguma fique seca... ;
16h30 – uma pessoa gripa no salão que o embarque está autorizado. Apresento o meu cartão de embarque. Para chegar ao avião tenho que tomar um pouco de chuva;
16h35 – antes de subir pela escada do avião todas as pessoas tem que abrir a bagagem de mão para inspeção pela companhia aérea. O cartão de embarque recebe mais um carimbo;
16h38 – entro na fila da escada do avião. Desta vez todas as pessoas são revistadas pelo funcionário da companhia aérea. Outra pessoa recolhe o cartão de embarque;
16h40 – meu assento está ocupado e tenho que chamar o funcionário para resolver a situação;
16h58 – acabo de escrever estas notas e nada do avião decolar. O comissário de bordo serve um refrigerante aos passageiros;
17h20 – o avião da Air Sahara decola. O vôo é tranqüilo e a comida servida é muito boa.

11 comentários:

Unknown disse...

Feijó,

Já sabia de seu talento como fotógrafo, mas o de escritor é novidade!

Super beijo da fã que não perde um "capítulo" da aventura!

Lis

Leo Mayrinck Photos disse...

grande feijo, lindas as fotos, bacana as aventuras pela india, fico so imaginando, queria ver fotos das partes ruins tambem, tipo da estacao de trem que falou, do onibus, acho que é legal mostrar esse lado tambem, to curtindo muito sua viagem, boa sorte abracao e parabens mais uma vez pelas fotos, foto do por do sol, nota milllllll show de bola

Anônimo disse...

Oi Feijó,

Puxa! Fico feliz por você estar registrando tudo em fotos e textos. Posso curtir um pouquinho por aqui mas imagino suas experiências. Quanta experiência!!

Continuo acompanhando...

Grande beijo e sorte
Mônica

NanaZylber disse...

Uau! Que grande aventura!

Infelizmente, só devo poder fazer algo extraordinário assim quando me aposentar...

Por enquanto, fico por aqui espiando um pouquinho e torcendo por você!

Abraços do Brasil!

Anônimo disse...

Olá Eduardo,

Td bem? aliás, td ótimo né... a Índia é realmente um lugar repleto de mistério e magia e apesar da miséria do povo é um lugar para se elevar a alma. Parabéns pelas fotos e pela experiência!
Já viajei para muitos lugares desse mundo, mas ainda faltam muitosss e estou planejando uma volta ao mundo para 2008.
Se vc tiver um tempinho em algum lugarzinho do mundo para me responder, agradeceria muito, pois gostaria de trocar idéias e principalmente ter uma noção do custo de vida médio por mês numa viagem dessa (exceto passagem).
Bom, nem preciso dizer para aproveitar bastante esta experiência, pois aquilos que vivemos e sentimos é o que levaremos pro resto de nossas vidas!!!

Abraço,

Carol (carolguerrero@uol.com.br)

Indi(a)screet disse...

Namastê Eduardo,
Seja bem-vindo a India e especialmente a Delhi. Minha cidade querida (menos no verão).
Espero que ao contrário da maioria dos ocidentais, vc tenha sofrido pouco nesta terra tão diferente e super povoada.
Sou a dona do Indiagestão, o mais antigo e famoso blog sobre a India em português. www.indiagestao.blogspot.com quero saber se posso divulgar o link do seu blog aos meus leitores????
Boa Vigem!
Sandra Bose

Anônimo disse...

oi feijó!
acompanho tb a sua viagem aqui pelo blog! eh uma forma de viajar tb! hehehe

so nao entendi pq aparecem argentina e eua pintados em vermelho no mapa se no seu roteiro esses países nao estao

boa sorte ai!
divirta-se mais e mais!
e nos deixe viajar junto com vc atraves do blog!

Anônimo disse...

e ainda tem mais o chile, peru, bolivia, etc...

Luis disse...

Oi Eduardo! Acabei de conhecer o seu blog através de um outro que costumo ler. E parece telepatia... sempre tive esse sonho de fazer uma viagem de volta ao mundo, talvez até por isso fiz faculdade de turismo. Embora essa viagem esteja na categoria B dos meus sonhos não sei exatamente quando vou poder colocá-la em prática. Mas desde já vou sonhando e pensando nos lugares que quero conhecer, conversando com as pessoas, planejando enfim. Comecei a ler seus posts e ver as fotos desde o primeiro, ainda estou em março mas te alcanço qualquer dia desses. Desde já queria te desejar boa sorte no restante da viagem. Abraços!

Anônimo disse...

Oi Feijó !
É a Carla, tudo bem ?
Fiquei sabendo seu seu blog pela Maria Cecília e adorei ! Fantástica sua experiência, muitas fotos maravilhosas e ótimos comentários. Acompanharei e recomendarei!

Os lugares que vc escolheu são muito interessantes, não é muito comum termos muitas informações a respeito do cotidiano destes lugares.

Aguardo as sequências !!!

Abraço e boa viagem !

Anônimo disse...

seu blogger me ajudou muito no colegio ;p